Quando paridos
Recebemos da morte
Sua chancela
Num sussurro: Voltarei.
Nossa primeira certeza.
É tão certo, mas tão certo quanto
O amor de mãe.
Frágeis chorões que somos
Embalam-nos nas cantigas.
E sonhamos adolescentes o que
Às vezes realizamos adultos,
Até que velhos, curvamo-nos
Num dia de sábado.
É dia de parque,
Algodão doce na boca
E carrossel a girar.
Carrossel que jamais parou
Girou criança,
Girou adolescente
Girou adulto, mas
Gira agora com preguiça. Lento.
Escurece-nos as vistas,
O som do realejo diminui
E tudo gira; como o carrossel.
É o sinal (há muito temido)
Ao menos na boca tem
Algodão doce.
Ela voltou para
Cumprir a sentença.
O carrossel parou. Ouvidos moucos
Nenhuma voz. Nada.
O algodão doce está no chão.
Quando desencarnamos
Recebemos da morte
Sua chancela
Num sussurro: Voltei.
Jaraguá do Sul, SC
Ao meu querido Moisés.
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