janeiro 25, 2010

Aquarela

Eu pintei com nanquim o meu mar.
De branco pintei a areia, fina areia
E obtive, assim, um espumar
Com rajadas brancas. A mancheia

A maresia salpiquei com cravo e canela.
Pus no alto da rocha o vento Sul a pentear
Seus cabelos negros (como o mar). Da janela
De seus olhos castanhos usei a luz para nortear

A vida dos marujos e suas caravelas
Notívagas, infladas de ar e de ambições,
Sempre dispostos a abalroar cidadelas.

Aquarela de contrastes delicados, sensações
De paz e de guerra, homens rudes e donzelas
Sereias: cantos e contos num mundo de seduções.

Élcio

janeiro 16, 2010

“Nascer, morrer, renascer ainda e progredir sempre, tal é a lei.”(*)

Quando findar mais essa encarnação
Não quero corbelhas com frases douradas,
Nem prateadas, dispenso essa obrigação.
Coisa que não faço conta são as despedidas.

Aos amigos peço apenas uma flor de Liz,
Uma cova que não seja rasa por demais
E algumas belas palavras, escritas com giz
Quiçá! Basta que impressione os demais,

Principalmente algum credor que por certo,
Há de estar à espreita de meu advogado
A fim de cobrar o que agora se fez incerto.

Espero assistir (meu velório) ao meu lado,
Mas enquanto o caixão estiver aberto.
É que morro de medo de ficar entalado.

(*) Allan Kardec, saiba mais aqui.

Élcio

janeiro 11, 2010

A menina e o vento no ventre

Um vento tão malicioso quanto safado
Pelas pernas da menina foi se meter
E ali rodopiou, rodopiou inebriado
A beijar-lhe as coxas; e nada temer.

Do rosto da menina rouba as cores,
As maças e descompassa-lhe o coração;
O corpo arde numa onda de calores;
Já no olhar, há uma velada satisfação

Que aos olhos faz cerrar: sonolenta!
As mãos sobre o ventre espalmadas
Buscam segurar toda tormenta...

Foi-se o vento, ficaram as coxas molhadas
Da menina-moça, que agora recorda na ponta
Dos dedos o vento safado e suas bolinadas.

Élcio