dezembro 20, 2009

Amor Herói

Deus sabe como eu quero,
E mais, quanto eu quero!
Viver um amor bandido,
Mas nada arrependido.

Isso não! Basta que seja
Simples, despojado e veja,
Em meu amor, o seu herói,
Que encara mazelas e as destrói.

Como destrói a mundos interplanetários,
Que salta sofás, almofadas e armários
Com seu tigre Haroldo à tira-colo.

Amor bandido enquanto amor criança.
Livre na inocência que enlaça,
Aperta, cheira, morde e dá colo.

Élcio

dezembro 10, 2009

A minha dor, o circo levou

Nossa decepção ficou pesada demais
Para ser arrastada para fora dessa
Noite; outrora cúmplice, hoje não mais!
O ciúme fez em nós verdadeira devassa.

E a mágoa, filha do ciúme, pintou com cores
Frias o nosso olhar. O nosso destino,
Antes farto dos planos de amores,
Enfartou, rodopiou e caiu em desatino.

Até que a banda chegou anunciando
O circo com os seus palhaços,
Animais; malabaristas dançando.

Meu coração de saltimbanco exultou.
Foi à rua e dançou e desdenhou dos soluços
E seguiu o mambembe, de onde nunca voltou.


Élcio

dezembro 05, 2009

Deus de Azeviche

Ela sempre fora dona de seus atos,
Mas, também possuía uma fraqueza:
Homem negro, musculoso, além de alto.
Seu tendão de Aquiles, com certeza!

E num domingo de praia, o seu fetiche
Lá estava. Nas formas, um deus grego
A exibir músculos na pele de azeviche.
Dali por diante seria esse desassossego

Que a deixaria com a alma em desalinho;
Refém do olhar que consumou o beijo,
Também consumaria o descaminho;

Cria das surdas paixões do desejo.
E surdo foi o grito natimorto. Desalinho
Da alma de mulher que penou por desejo.

It's all true!

Élcio

novembro 25, 2009

Estigmas

Em encarnações pregressas
Devo ter aprontado poucas
E boas. Vivido às avessas
Junto ao mar, pelas docas;

Ladeado por estivadores,
Ratazanas e prostitutas
Madames, doutores
Atrás das frutas...

Hoje quando encaro
O mar, vivo enigmas,
Sinto gritar a alma de bárbaro.

Alma que outrora viveu dogmas
E hoje sonha sonhos de Ícaro.
Apenas sonha: presa a seus estigmas.

Élcio

novembro 19, 2009

Eu, seminu

Eu quero o vento forte
Na cara em dia quente
E uma preguiça de morte,
Quase que entediante.

Eu quero o lábio gelado
No sorvete de mangaba.
Quero o beijo encantado,
Qual as tardes de Uberaba.

Mas, que seja de modo tão intenso,
Que mesmo depois pelas ruas, avenidas
E praias, venha a ser apenas no que penso.

Eu quero um dia irresponsável.
Sem terno nem gravata: Seminu;
Como um soneto assim; quase sem rimas.


Élcio

novembro 09, 2009

Menino vadio

Vai menino vadio,
Pelas ruas, nuas.
Pernas desnudas e
Cabelos cacheados.

Vai menino vadio,
Que chuta a bola,
Que chuta a pedra,
Que chuta a lata,
Que chuta a vida.

Vai menino vadio,
Lança teu olhar além
E busca a quem
De muito longe vem;

Naquele trem
Que come as paralelas,
Pelas colinas a serpentear
E para ela se faz insinuar.

Vê? Ele vem a balançar,
Quase a embalar;
Pela vida a cantar,
Pela vida a voar.

O apito a apitar,
O carvão a arder,
O vapor a moldar nuvens.
Carneirinhos nos céus. Vê?!
Para traz ficaram!
E lá se foi o trem.

Vai menino vadio,
Lança essa bola,
Depressa, vai; rola!

Olha aquela pomba-rola!
Estilingue na mão,
Goma tencionada,
Nervos também.

Fez mira,
O dente cerrou,
Atirou!
Voou...
Errou...

...mas a vidraça acertou.

Corre que lá vem o grito!

VAI MENINO VADIO!

Élcio

novembro 04, 2009

Uma noite qualquer...sem sono

E essa madrugada quente,
Infinita, envolta num ar pesado
Que se arrasta quase silente.
Não fosse o tic-tac compassado

Desse relógio filho de quenga
Que mostra o tempo (a correr)
Com voz alta. Pendenga.
Morfeu venha me socorrer,

Pois os carneirinhos em greve
Deram agora para me encarar.
Cada um mais ocioso e nada leve.

Ah eu não queria essa noite varar,
Assim, sem sono feito gente que deve.
Se ao menos o teto parasse de girar!


Élcio

outubro 29, 2009

Linhas

A cada linha percorrida
Em teu corpo
Minha alma sussurra
Um poema: que não declamo;
Uma musica: que não canto.
Em teu corpo
A cada linha percorrida.

Elcio

outubro 21, 2009

Remanso

Serei amor, ainda que distante.
E quando a lágrima nascer,
Serei saudade, pois, errante
Vivi das noites a renascer

E a morrer na solidão. Exílio
De um amor vívido outrora.
Hoje se perdeu se fez imbróglio
E com ele, jaz a última aurora.

Luz amêndoa, refletida nas espumas
De um mar de calmaria sob o ocaso
Sereno, como serenas, são as brumas

A envolver o barco que desliza manso
E alheio às águas devoradoras de almas,
Amores e temores. E tudo finda; num remanso.

Élcio

outubro 11, 2009

Sem graça

Será que há algo tão sem graça
Quanto uma piscina vazia,
Ou uma pedra sem vidraça?
Um carnaval sem primazia

Ou ainda uma praça sem parque?
E quermesse sem prenda de bingo,
Ou Caetano sem Chico Buarque?
Talvez, feriado em dia de domingo?

Festa de aniversário sem doce brigadeiro?
E fazer dieta no inverno, comer linhaça,
Soja e às vezes um pouco de molho tártaro?

E esse Sarney que vive numa couraça,
Impune e jactante com nosso dinheiro?
Será que há algo tão sem graça?

Élcio

outubro 05, 2009

"Era vidro e se quebrou"

Juramos amor sem mensurar o “eterno”.
Você de véu e grinalda estava estonteante
E eu ali sério à tua espera, de gravata e terno.
Como terno era o meu olhar embora distante.

Mas, a vida é cíclica, nem sempre diz a que veio.
E é assim que a descoberta exultante no início
Tenta selar (o todo) quando este ainda é meio,
Pois, teme o preço que ela –a vida- cobre ao fim.

Na infância cantamos inocentes cantigas;
Crescemos e aí começamos a cantar
Amigas e ainda as amigas das amigas.

Até que um dia, somos pegos e vamos ao altar,
Mas, o tempo é inexorável: leva o amor, as cantigas,
A vida, tudo enfim e não deixa nada por que cantar.

Élcio

outubro 01, 2009

Sem Anúncio

Ouço por acaso no rádio uma canção:
Fly me to the moon. Não havia percebido,
Mas, a magia já cuidava de sua anunciação.
E assim, tua imagem houvera irrompido

O ambiente. Ali me inquiriu com teu silêncio
E o tempo até parou, por toda a eternidade
Que há num suspirar, e foi assim, sem anúncio;
Que vi o teu corpo seminu e pleno de beldade

Se mostrar. Senti-me adolescente de anos e anos
Atrás quando vi os primeiros seios. Beirou o sagrado.
Contudo, os hormônios, ah esses são todos profanos!

E como não há suspiro tão longo para eles, o acertado
Entre sagrado e profano deu-se ao cair dos panos;
E a magia se consuma. Já no rádio, toca Corcovado.

Élcio

setembro 26, 2009

Achocolatado morno

Já te disse hoje que é o meu amor?
Talvez não, apesar de haver inúmeras
Maneiras, algumas com bom humor;
Outras meio despojadas (...) quimeras.

Pode ser dito com a mesa preparada
Para o seu café; o seu achocolatado
Morno e disposto ao lado da torrada.
E olha que hoje nem é sábado!

Notou que hoje o despertador
Não gritou feito louco ao seu ouvido
Como se fosse um insano ditador?

Notou que nessa manhã nada foi olvido?
Mas, se nada disso bastar ao seu redor
Para entender que te amo: Troco de cupido.

Élcio

setembro 18, 2009

Bendito tempo maldito

Crê amigo: Do berço ao túmulo
A distância é assaz pequena.
Repare como a vida passa. É um pulo!
Vai ligeira e indiferente; nem acena.

Tempo que nos mostra o melhor da vida,
E em seguida, começa a nos devorar
Sem pressa, dia a dia e nessa corrida
É fatal; perderemos e nem adianta arvorar.

Cínico que é (o tempo) nos quer enfadonhos
E a cada alegria, uma semente de saudade
Há de rasgar e maltratar o campo dos sonhos

Que cultuamos como eternos na juventude.
As juntas duras, rangerão feito assoalhos
E o que deveria ser duro mudou de atitude.

Élcio

setembro 13, 2009

A peleja entre Cleóbulo X Capeta

Aquele fora apenas mais um jogo de cartas
Dentre os incontáveis entre o demônio
E o jagunço Cleóbulo. O cem-patas,
Pois, no risca-faca dava coice de Antonio

A Zarualdo. Naquele dia, seu jogo estava amarrado.
Só mão ruim atrás de mão ruim. Nenhum jogo prestava.
Cleóbulo quis ter sorte melhor. Estava injuriado.
Ateu, até negociaria a alma com o demo ali. Ele pensava.

Isso bastou. As cartas vieram ótimas. Mel na chupeta.
Feliz, Cleóbulo pensou: A má sorte se foi, passou.
A ficha só foi cair, quando ele reparou no sorriso do capeta.

O frio subiu por sua espinhela. Sentiu-se claudicante
E naquele domingo Cleóbulo foi à missa e até se confessou.
Hoje Cleóbulo continua ateu, mas, agora não praticante.

Élcio

setembro 04, 2009

O amor platônico do porquinho Prático

Lilian era da escola, a diretora
Tinha um olhar duro, inquiridor,
Além da fama de disciplinadora.
Mas, um dia, do outro lado do muro

Alguém de nome “Prático” a observava
Escondido nas sombras de uma ruína.
Prático por Lilian apaixonado estava.
Contudo, Lilian gripara e temia a gripe suína.

Mas, Prático que via em Lilian uma santa,
Infelizmente chegara na hora mais errada...
E aí, numa noite de descuido virou janta

Do lobo mau, que por ali fazia caminhada
A fim de manter sua forma física pronta,
Já que tinha colesterol em taxa elevada.

Élcio

agosto 28, 2009

Embriagado

Eu quero um dia
Mergulhar no olho
Do furacão
(De teu corpo) e nele,
Girar, girar. Até cair;
Exausto, sem sentido.
Qual bêbado
Entre vômitos.

Eu quero um dia
Quente e promissor
Na primeira manhã
De primavera.

E beber seus perfumes
E neles embriagar-me
Até meu corpo vomitar
Minha alma e cair
Exausto e sem sentido.

Num corpo de mulher
Em manha de primavera.

Élcio

agosto 20, 2009

O Gato no paralelepípedo

Hoje na rua eu vi um gato
Malhado que jazia estirado
Na horizontal; ali, o gaiato
Abraçara o paralelepípedo.

Seria o fim ou teria ainda
Outras vidas tantas a viver;
Como o amor que não finda,
Luta, teima não ser cadáver?

Já o bichano, este treme, dá coices.
Findo (nos telhados) as suas festas.
Findo ar dor de seis faces,

Findo ardor de doze arestas,
Findo a dor de oito vértices.
No paralelepípedo, esticou as patas.

Élcio

agosto 08, 2009

Isabel Cristina

Isabel Cristina foi o meu primeiro amor.
À época em que se abria a era de aquários;
Woodstock trazia a mensagem: “paz e amor”.
Já no Vietnã, a guerra nos pântanos e rios

Desafinava. Menos Jobim, o Tom
Que não era de uma nota só.
A tropicália trazia um certo Tom
Zé, nome estranho como João Só.

Fittipaldi era estrela de primeira grandeza,
Enquanto os generais arrastavam a dor
Pelos porões, lágrimas sem fim. Tristeza.

Eu era criança acho que nem era pecador.
Mas um dia o amanhecer foi sem beleza:
Isabel Cristina foi minha primeira dor!

Élcio

julho 23, 2009

Revista de mulher pelada

Já folheei a Bíblia, e não entendi nada;
Bom mesmo é quando o corpo entende,
Aí, o bom são as revistas de mulher pelada!
O cérebro ferve e o corpo todo se acende.

Eram assim os devaneios de adolescente!
Hoje nem Bíblias, muito menos aquelas revistas:
À época, disputadas no tapa, no dente por dente.
Sem falar que ainda tínhamos que tirar das vistas

Dos pais e de todas as pessoas de mais idade.
Assim, sob o colchão parecia ideal. Sentíamo-nos
Os caras, os espertos. Deus, quanta ingenuidade!

Nossas mães sabiam de tudo; tudo! Mas não nos
Revelavam a descoberta. Havia uma cumplicidade;
Dividida com os maridos: à noite, debaixo dos panos.

Élcio

julho 17, 2009

Vida

Noutro dia eu vi a cara da morte.
De sorrisos crispais e mal humorada
Trazia na jugular grande e belo corte,
Além de uma barriga há muito inchada.

Era a carniça de algum pobre coitado.
Sem extrema unção, nem mais um flerte;
A não ser a lua que agora (ensimesmado)
Sua cara fitava sem piscar; quase inerte,

Não fosse o bailar das águas imundas,
Que dissolviam-lhe a carne, entre varejeiras
Excitadas, famintas ... e mudas,

Elas limpar-lhe-iam até os ossos, em fileiras
Paralelas. Pelo fedor sempre seriam guiadas.
No compasso rítmico das ondas: sem carreiras.

Élcio

julho 14, 2009

Esse seu olhar

Esse seu olhar lascivo
que perscruta a noite
de meus pensamentos,
acorrentou minha alma
aos porões mais gélidos,
e fez-me prisioneiro
de tua sedução.


Élcio

julho 08, 2009

Beijo Partido

Um sonho,
Um espelho e
Teu espectro.

A emoção,
O toque,
O gozo.

O despertar,
A desilusão,
A lágrima.

No espelho
Agora quebrado,
O batom e
O “beijo partido”.

Élcio