“Homem foi feito para o sozinho? Foi. Mas eu não sabia.”
Riobaldo
– Grande Sertão:Veredas
O
medo da gente vem num sopro.
E
nos atinge e nos tange e nos marca, mas, não nos abandona.
Como
o diabo
Na
noite de nossa encruzilhada.
Encruzilhada
de terra batida, terra massapé.
O
diabo das nossas batalhas.
O
diabo nas nossas batalhas sem sentido. Só batalhas.
O
diabo que nos tira do peito a nobreza e deixa um coração falido
Que
na noite sem lua, espreita de soslaio à morte na parede de adobe em cal.
Na
parede, cravada com trinta e cinco facadas, há um corpo que sangra. É Severino
Silva não é São Cristóvão é Severino apenas; um cangaceiro que já acusa o hálito da morte em suas ventas.
Nas
suas feridas pousa a primeira mosca-varejeira que sem perda de tempo, põem-se a
lamber-lhe a carne exposta: crua, vermelha, em posta.
Pendurada
ao lado, na corda de sisal, um corpo de mulher, ainda balança;
Pálida
em cera, sob as cores vivas da chita. A morte!
Na
cara de terror, lábios roxos, os olhos arregalados, já não têm lume.
É
a escuridão é a solidão de cada um no momento da morte.
“O
sertão é sem lugar”.
É
a tragédia é a guerrilha urbana nossa de cada dia que nos trás essa herança
fria, rija e feia em cadáveres da desesperança.
Cadáveres
de ouvidos moucos que jamais ouvirão outra vez os sons do sertão: desde o
silêncio do velho Chico que lambe com suas águas os barrancos e as canelas dos
meninos, até o carcará, o bem-te-vi, o socó, assumpreto, o rasga-mortalha, o
irerê e o xexéu: aves do nosso céu.
Tão
pouco os sons da metrópole: As sirenes apressadas as buzinas histéricas, as árvores
poucas, algumas nuas pelas ruas duras...agressivas.
O
último suspiro e fecham-se as suas janelas em crime e castigo.
A
quem fica, cabe a peleja do dia-a-dia e essa gastura que cansa os ossos, os
nervos maltrata, e enche a algibeira com os medos que o coisa ruim, descobre e
planta na gente.
Na
metrópole e no sertão tudo se fez caos, como o caos do universo misterioso de
Diadorim em suas dualidades.
Deus
e o capeta. Vida e morte, carinho e receio. No sertão o afago é órfão; na metrópole
também.
É
o sertão nosso de cada dia, o medo nosso de cada noite, e a fumaça presa na
garganta.
Em
cada alma há um sertão.
“O
sertão é o mundo”!
É
um emaranhado de vidas e histórias sob a complacência das estrelas.
Estrelas
dos sertões de todos nós em nós atados, já que:
“O
sertão está em toda a parte”.
O
medo também!
Élcio