abril 15, 2013

Eu...seminu


Eu quero o vento forte
Na cara em dia quente
E uma preguiça de morte,
Quase que entediante.

Eu quero o lábio gelado
No sorvete de mangaba.
Quero o beijo encantado,
Qual as tardes de Uberaba.

Mas, que seja de modo tão intenso
Que mesmo depois pelas ruas, avenidas
E praias, venha a ser apenas no que penso.

Eu quero um dia responsável.
Sem terno nem gravata: Seminu;
Como um soneto (...) Quase sem rimas.

Élcio

abril 04, 2013

O Medo


“Homem foi feito para o sozinho? Foi. Mas eu não sabia.”
Riobaldo – Grande Sertão:Veredas

O medo da gente vem num sopro.
E nos atinge e nos tange e nos marca, mas, não nos abandona.
Como o diabo
Na noite de nossa encruzilhada.
Encruzilhada de terra batida, terra massapé.
O diabo das nossas batalhas.
O diabo nas nossas batalhas sem sentido. Só batalhas.
O diabo que nos tira do peito a nobreza e deixa um coração falido
Que na noite sem lua, espreita de soslaio à morte na parede de adobe em cal.
Na parede, cravada com trinta e cinco facadas, há um corpo que sangra. É Severino Silva não é São Cristóvão é Severino apenas; um cangaceiro que já  acusa o hálito da morte em suas ventas.
Nas suas feridas pousa a primeira mosca-varejeira que sem perda de tempo, põem-se a lamber-lhe a carne exposta: crua, vermelha, em posta.
Pendurada ao lado, na corda de sisal, um corpo de mulher, ainda balança;
Pálida em cera, sob as cores vivas da chita. A morte!
Na cara de terror, lábios roxos, os olhos arregalados, já não têm lume.
É a escuridão é a solidão de cada um no momento da morte.
“O sertão é sem lugar”.
É a tragédia é a guerrilha urbana nossa de cada dia que nos trás essa herança fria, rija e feia em cadáveres da desesperança.
Cadáveres de ouvidos moucos que jamais ouvirão outra vez os sons do sertão: desde o silêncio do velho Chico que lambe com suas águas os barrancos e as canelas dos meninos, até o carcará, o bem-te-vi, o socó, assumpreto, o rasga-mortalha, o irerê e o xexéu: aves do nosso céu.
Tão pouco os sons da metrópole: As sirenes apressadas as buzinas histéricas, as árvores poucas, algumas nuas pelas ruas duras...agressivas.
O último suspiro e fecham-se as suas janelas em crime e castigo.
A quem fica, cabe a peleja do dia-a-dia e essa gastura que cansa os ossos, os nervos maltrata, e enche a algibeira com os medos que o coisa ruim, descobre e planta na gente.
Na metrópole e no sertão tudo se fez caos, como o caos do universo misterioso de Diadorim em suas dualidades.
Deus e o capeta. Vida e morte, carinho e receio. No sertão o afago é órfão; na metrópole também.
É o sertão nosso de cada dia, o medo nosso de cada noite, e a fumaça presa na garganta.
Em cada alma há um sertão.
“O sertão é o mundo”!
É um emaranhado de vidas e histórias sob a complacência das estrelas.
Estrelas dos sertões de todos nós em nós atados, já que:
“O sertão está em toda a parte”.

O medo também!

Élcio