maio 30, 2013

Sertão do demonho

Eu cuspi na terra rachada
Do sertão que nem molhar
Molhou; não vingou molhada.
Terra dura pra ser vivente; pra olhar.

Diabo do meio do redemoinho
Saltou e dançou, dançou aluziu.
Cuspiu na minha cara. Demonho...
Cravejo-te de bala na ponta do fuzil!

Sertão é vida e morte sertão. Melindroso!
Ou ele ajuda ou é traiçoeiro predador.
Há que ter valentia ante o desastroso;

Esquecer que vida tem. Vale nada!
“O passado é ossos em redor

De ninho de coruja.” É navalhada.

Élcio (quando lia Grande sertão: veredas)

maio 22, 2013

Amor sem sombras


Dou-te minha paz, meu corpo.
Sereno quando disto do teu,
Próximo sou rijo, sou Édipo
Sou crente, pagão. Sou ateu.

Ouvi de amigos tantos:
Paixão assim não existe.
A não ser para os tontos
E diziam com dedo em riste.

Revi então meus conceitos
Tentei calcular o tamanho
De meus sentimentos
E sempre me via em teu ninho.

Imerso em teus braços,
Perdido em teu corpo.
Hoje me encontro em teus laços.
Atado, preso e jogado ao limbo.

Nunca vivi nada parecido
A este mundo, nunca, jamais.
Mundo de entrega. Esquecido
Livre de mazelas. Meu cais.

Há quem possa duvidar,
Não dar créditos às minhas juras.
Dirão serem palavras a olvidar,
Falácia, um amontoado de mentiras.

Assim, sigo entregue a essa mulher.
Com todas, todas as fibras
De meu corpo. Cada uma a arder
Por ti. Sou amor: claro e sem sombras.

Élcio

maio 05, 2013

A morte é doce como um sábado no parque


Quando paridos
Recebemos da morte
Sua chancela
Num sussurro: Voltarei.

Nossa primeira certeza.
É tão certo, mas tão certo quanto
O amor de mãe.

Frágeis chorões que somos
Embalam-nos nas cantigas.
E sonhamos adolescentes o que
Às vezes realizamos adultos,
Até que velhos, curvamo-nos
Num dia de sábado.

É dia de parque,
Algodão doce na boca
E carrossel a girar.
Carrossel que jamais parou
Girou criança,
Girou adolescente
Girou adulto, mas
Gira agora com preguiça. Lento.
Escurece-nos as vistas,
O som do realejo diminui
E tudo gira; como o carrossel.

É o sinal (há muito temido)

Ao menos na boca tem
Algodão doce.

Ela voltou para
Cumprir a sentença.

O carrossel parou. Ouvidos moucos
Nenhuma voz. Nada.

O algodão doce está no chão.

Quando desencarnamos
Recebemos da morte
Sua chancela
Num sussurro: Voltei.

Jaraguá do Sul, SC
Ao meu querido Moisés.