agosto 28, 2009

Embriagado

Eu quero um dia
Mergulhar no olho
Do furacão
(De teu corpo) e nele,
Girar, girar. Até cair;
Exausto, sem sentido.
Qual bêbado
Entre vômitos.

Eu quero um dia
Quente e promissor
Na primeira manhã
De primavera.

E beber seus perfumes
E neles embriagar-me
Até meu corpo vomitar
Minha alma e cair
Exausto e sem sentido.

Num corpo de mulher
Em manha de primavera.

Élcio

agosto 20, 2009

O Gato no paralelepípedo

Hoje na rua eu vi um gato
Malhado que jazia estirado
Na horizontal; ali, o gaiato
Abraçara o paralelepípedo.

Seria o fim ou teria ainda
Outras vidas tantas a viver;
Como o amor que não finda,
Luta, teima não ser cadáver?

Já o bichano, este treme, dá coices.
Findo (nos telhados) as suas festas.
Findo ar dor de seis faces,

Findo ardor de doze arestas,
Findo a dor de oito vértices.
No paralelepípedo, esticou as patas.

Élcio

agosto 08, 2009

Isabel Cristina

Isabel Cristina foi o meu primeiro amor.
À época em que se abria a era de aquários;
Woodstock trazia a mensagem: “paz e amor”.
Já no Vietnã, a guerra nos pântanos e rios

Desafinava. Menos Jobim, o Tom
Que não era de uma nota só.
A tropicália trazia um certo Tom
Zé, nome estranho como João Só.

Fittipaldi era estrela de primeira grandeza,
Enquanto os generais arrastavam a dor
Pelos porões, lágrimas sem fim. Tristeza.

Eu era criança acho que nem era pecador.
Mas um dia o amanhecer foi sem beleza:
Isabel Cristina foi minha primeira dor!

Élcio