novembro 15, 2011

Poema de vida e de morte

Poemas há que são cores;
Carregados de energias
Primaveris, espargem olores
Aos quatro costados. Magias

Manifestas em tudo o que respira,
Abençoados pelo toque de Diana
Deusa. Poema onde a vida conspira
Em tom, em movimento. Parvana.

Poemas há que são pútridos;
Como a morte e dela sua estirpe.
São belos sem serem almofadados.

São em si, abençoados por Anúbis-deus
E sob a chancela de Baudelaire príncipe
Vivem! Sim, beleza também há num adeus.


Elcio

setembro 13, 2011

Ensaio do amor distante

"Aos olhos da saudade
como o mundo é pequeno"

Charles Baudelaire


Um amor quando distante,
Machuca esfola, maltrata.
É noite é desespero que
Come a carne da gente.

E quando esse amor vive em segredo
É ainda pior, pois na saudade
Mora a vontade de chorar.
Mas isso não lhe é permitido.

Então, vem uma vontade
De gritar o seu nome.
Aos quatro costados.
Mas isso não lhe é permitido.

Você é prisioneiro em seu próprio peito,
Enquanto que algoz de si mesmo.

Quando o amor existe em segredo
Dilacera as entranhas, sufoca o peito,
E este claustro fica deveras pequeno.

Na alma, a mortalha da saudade
Comprime-te, mas também isso
Tem que ser segredo e você sorri.

E tenta contentar-se quando vir
A ampulheta do tempo a girar, girar, girar.

Talvez, mas apenas talvez, teu amor
Também sofra agora. Mas, nem isso é certo.

Seu amor talvez possa estar
Mais distante do que se imagina.
Talvez tão distante que você nem mais o alcance.

Talvez teu amor tenha se cansado
De sofrer de ausência (sempre tão presente).
E tenha saído para balada. Talvez, apenas talvez,
Tenha encontrado alguém que se fez interessante.
Alguém que se fez próximo. Talvez próximo até demais.

E essa dor é lancinante
Tanto que a vontade de se matar
Já se apresenta plausível.
Talvez plausível até demais.

Dirão: é a lei da selva!
Sim. Pode ser!
Mas, um amor quando distante
Metamorfoseia-se na saudade.
Esse veneno da alma da gente
Que tem por cria o ciúme.

Ciúme que se alimenta de dúvidas
Numa antropofagia insana
E isso mata a gente quando o amor
Tem que ser distante e em segredo.

Élcio

agosto 21, 2011

Assim

Deixa eu te querer assim
Feito bicho do mato, lascivo,
Em lençol carmesim,
Ora felino, ora inofensivo.

Quiçá perca de vez o tino
A mim isso pouco importa.
Contudo, ferve meu sangue latino,
Sempre que irrompes por essa porta.

Dá-me teu corpo e não te arrependas
Mas, antes, dispa-se de todo pudor
E traze-me esse olhar puro e sem dor

Por esse teu mundo, pago prendas,
Suicido-me com bala de festim,
Mas, deixa-me te querer assim.

Élcio

julho 20, 2011

A peleja entre Cleóbulo X Capeta

Aquele fora apenas mais um jogo de cartas
Dentre os incontáveis entre o demônio
E o jagunço Cleóbulo. O cem-patas,
Pois, no risca-faca dava coice de Antonio

A Zarualdo. Naquele dia, seu jogo estava amarrado.
Só mão ruim atrás de mão ruim. Nenhum jogo prestava.
Cleóbulo quis ter sorte melhor. Estava injuriado.
Ateu, até negociaria a alma com o demo ali. Ele pensava.

Isso bastou. As cartas vieram ótimas. Mel na chupeta.
Feliz, Cleóbulo pensou: A má sorte se foi, passou.
A ficha só foi cair, quando ele reparou no sorriso do capeta.

O frio subiu por sua espinhela. Sentiu-se claudicante
E naquele domingo Cleóbulo foi à missa e até confessou.
Hoje Cleóbulo continua ateu, mas, agora não praticante.


Élcio

junho 23, 2011

Rebento

Quando ouvi pela primeira
Vez o seu coração assustei!
Fiquei sem eira nem beira,
Mas confesso que gostei.

Aquele som frio a chicotear
E rasgar a sala também gelada.
A vida na vida. Era de desnortear.
Cadê seu norte alma abalada?

Ali meu orgulho seria materializado
Naquele serzinho, cada vez mais
Dono de meu coração (...) já desajuizado.

Tú és o filho que eu quis ter, ademais,
Não saberia discorrer. Despoetizado
Sei, contudo, que ser pai é bom demais.

Élcio

junho 07, 2011

Pecado

Tantas foram as taças
Que colaram meus lábios
Quentes e cheios de sede!

Taças brancas,
Taças azeviche!
Lisas algumas tantas, (mas
Nem sempre). Não faço conta,
Contanto que taças sejam.

No roto lençol,
Entre as paralelas
A taça transbordou.

Mas ficou
Em meus lábios
Colada, untada,
E aquecida
permaneceu;

E, assim deixou-se
Até a gota derradeira.

Gota que levou
Dos sulcos
De meus lábios
O gosto macio;

A língua retesada
Agora jaz almofada
Ainda à borda.
Colada, untada,
E aquecida.

Na boca pairou
Um vento (...) com gosto
De pecado.

Élcio

maio 31, 2011

As muitas vidas do amor

Quantas vidas
tem o amor
Se entre tantas
idas e vindas
Brigas tolas brigas
sérias
Ciúmes
infundados (ou não)
Âmagos feridos
orgulhos vãos
orgulhos
à prova
o sofrer
re-compensa
nas pazes
sofrer

Mas
um belo
dia
entre inúmeras
idas e vindas
(tanto desgaste)
não há vinda
e ele morre
Por inteiro
E o que restou

Vazio
Ódio

Quiçá


Élcio

maio 17, 2011

E se eu morrer amanhã?

E se amanha acontecer
De eu morrer de repente
E minha alma anoitecer,
Talvez em um acidente,

Apagando assim, a última fagulha,
Sem deixar um scrap, tão pouco
Um email ou algo que valha.
Serei apenas um Nick mouco

Nas telas dos amigos virtuais.
Até vir a ser, por eles deletado.
Sem lágrimas, dor, nada. Nem ais.

Hoje na estrada, estava eu bem acordado
Quando a morte passou em vendavais!
O flerte (arrepio) e um beijo nada desejado.

maio 07, 2011

Olhos de saudade

Passeava a bailar por suas mãos
Todo um universo em formas,
Volumes e profundidade nos vãos
Angulados a moldar octogramas.

O círculo a competir com o triângulo
E assim, aquela vaidade geométrica
Disputava o toque de seus dedos, ângulo
A ângulo num bailar em que a rítmica

Era constante. Um moto contínuo. Rodaviva
Que osculava a face da atemporaneidade.
Coisas tão racionais assim faziam-na ativa.

Característica herdada de seus ancestrais,
Além é claro, daqueles olhos de saudade
Do leste europeu. Hoje filha de terras tropicais.

Élcio

abril 21, 2011

Poema de vida e de morte

Poemas há que são cores;
Carregados de energias
Primaveris, espargem olores
Aos quatro costados. Magias

Manifestas em tudo o que respira,
Abençoados pelo toque de Diana
Deusa. Poema onde a vida conspira
Em tom, em movimento. Parvana.

Poemas há que são pútridos;
Como a morte e dela sua estirpe.
São belos sem serem almofadados.

São em si, abençoados por Anúbis-deus
E sob a chancela de Baudelaire príncipe
Vivem! Sim, beleza também há num adeus.

Élcio

abril 15, 2011

Tonico, o sapo poeta!

Tonico é o cara; um amigo especial,
Exótico para alguns, meio pateta
Para outros, mas com um diferencial:
Meu amigo é metido a ser poeta.

Na lagoa, o microfone é seu. É o galã na multidão;
O coaxar tradicional ficou sem graça e posto de lado
Por ele. Fato que para alto clero é falta de retidão.
Mas Tonico não está nem aí e não se faz de rogado.

Porém, ao findar da noite, bem já de manhãzinha,
Ele volta para casa, está exausto, quase afônico.
Mas todo santo dia tem que driblar minha vizinha

Que estende roupas. Um grito e um frio pela espinha!
E tome correria pra cima do meu pobre amigo Tonico
Que por fim, desmaia (dia a fora) sob minha escrivaninha.


Élcio

abril 11, 2011

Saudade, tú és tinhosa!

Hoje bateu uma saudade
Danada, doída, daquelas
Que vem com ruindade.
Escancara nossas janelas

Joga-se na cama; cheia de comichão.
Pula e espanta o que era a nossa paz.
E num golpe baixo, tira nosso chão
Quando põe a rodar: Ne me quitte pás.

De raiva, ouvi Piaf e Holiday madrugada
A dentro. Como tu gostavas. Lembras?
E a vela? Luz tremula e quase apagada

Projetava na parede as nossas sombras
A fazer amor. Lúdica, mas nada sagrada.
Saudade! Tu és tinhosa em suas manobras.

Élcio

abril 05, 2011

Dilema

Amo-te anjo. Sagrado e profano. Amo-te viril.
Desejo-te qual criança pelo fruto maduro e tenro
Dos vinhedos espargidos pelos olores de abril;
Tão abundantes no mosteiro de Santo Amaro

Da minha infância. Aprendi, pois, que toda solidão
De uma noite cabe n´alma daquele que apaixonado
(E desatento) perambula sem norte pela vastidão
Dos poemas de um relicário ora virado, ora revirado.

Dou-te meu corpo, e trago-te o sabor do anis no lábio
E nesta paz mergulho em tua alma afim de nela perscrutar
Cada segredo recôndito que julgavas um alfarrábio

Quando em verdade teu segredo maior está a gritar.
Só teu espírito finge-se mouco e deveras dúbio
Entre o racional e o promiscuo: afinal, a que voz acatar?


Élcio

março 29, 2011

Por enquanto... Fechada para balanço!

Ela resolveu fechar para balanço
E mergulhou fundo em seu eu
Uma vez que vivia todo o ranço
Daquela decepção. Vivia o breu.

Não estava fácil lidar com aquela
Situação. Doía qual ter um espinho
Na carne onde a dor se fizera sentinela.
Agora ao cair da noite há um burburinho

A tirar o sono dessa mulher finíssima.
Louçã! Verdadeira filha de Iansã em atos,
Palavras e uma alma que transborda carisma.

Sentimento moído, feito bagaço.
Triturado que fora nas mós da mentira!
Por enquanto... Fechada para balanço.

Élcio

março 23, 2011

Amor Herói

Decididamente eu quero.
Ah e, como quero!
Viver um amor bandido.
Longe de ser empedernido

Isso não, porém, que seja
Antes de tudo, despojado e veja,
Em meu amor, o seu herói.
Que encara as mazelas e as destrói

Como destrói a mundos interplanetários,
Que salta sofás, almofadas e armários
Com seu tigre Haroldo a tira-colo.

Amor bandido enquanto amor criança.
Livre na inocência que enlaça,
Aperta, cheira, morde e dá colo.

Élcio

março 14, 2011

Ele & Ela

Postado ali, imóvel. Um ninja!
Atento ao silêncio de seu respirar
Ele fez-se guardião de seu sono,
De seu peito; naquela noite despedaçado.

Tamanho era seu enlevo que implorou
A Cronos que apressasse o tempo
Para que o fim do martírio logo chegasse.

Sonhos...
Sonhos de fazê-la ninar,
Um chamego, Um dengo,
O colo, Sonhos...

E ela com sonhos agitados,
Peito sufocado,
Vontade de chorar
E nada de Cronos
Atender às suas preces.

Tamanha a afinidade
Que dia a dia descobriam
Era de surpreender.

Contudo, não era plena,
Afinal de contas, ele gostava
De pizza e sorvete.

Ela não!

Élcio

março 06, 2011

Eu te espero

Eu te espero enlaçado pela ansiedade
Misto de dor e prazer.

Eu te espero
Como a aurora pelo fim da noite,
Como a bicharada pela
Explosão de vida da primavera;
Como a fonte anseia o mar;
Como a mãe ao rebento;
Como a fruta a ser mordida;
Como correr na enxurrada;
Como devorar Guimarães Rosa;
Como o alívio ante o medo.

Eu te espero!

Élcio

fevereiro 26, 2011

Algodão Doce

Onde termina o certo
E começa o errado
Se caminham tão perto,
Assim, um no outro colado?

Algodão doce, Pipoca, bem-casado.
Vontade de´oce rasga a carne. Insano.
Acendo uma vela p´ro sagrado;
Outra de igual tamanho pr´o profano.

Amanhã hei de cultuar
O ócio. Nada de correr nem
Suar, só de papo pr´u ar.

Da cama nem vou levantar
Tão cedo e, se nela morrer
Encomendem minh´alma num altar.

Élcio

fevereiro 15, 2011

E foi tanta água...

E foi tanta água que tudo caiu.
A carola se perguntou:
“qual será o recado de Deus?”
Outras pessoas se atinham a recolher
Seus pertences, alguns
Escalavam as casas,
Destino final; a laje.
Meninos e meninas
Correm pela enxurrada
Enxurrada que logo vira rio.
Rio de correnteza acelerada, devoradora
De meninos e meninas, criação
Se bobear vai também.
Os olhos buscam os céus
Em prece para que a chuva cesse
Enquanto os pés são
Devorados pela lama.
Relâmpago alumiou o céu
Há muito órfão de estrelas.
Veio o estrondo
Ouvido zuniu.

E foi tanta água que a internet caiu!

Élcio

fevereiro 03, 2011

Alfazema

Devo ter perdido a chave
Das gavetas de meu íntimo
Pois há muito não voa essa ave,
O que sinceramente, lastimo.

Vaga minha alma sem lume,
Assim, estranha e quase maldita,
Como se o coração batesse incólume
E da vida não provasse nenhuma desdita

Vergastou-me corpo e alma essa paixão
Tanto que impossível me foi o seu evitar
Foi intenso, foi minha chuva-de-verão.

Arrebatadora beirou o espetacular.
Mas, foi-se, como toda chuva de estação,
E deixou o frescor da alfazema em meu olhar.

Élcio

janeiro 07, 2011

Achocolatado morno

Já te disse hoje que é o meu amor?
Talvez não, apesar de haver inúmeras
Maneiras, algumas com bom humor;
Outras meio despojadas (...) quimeras.

Pode ser dito com a mesa preparada
Para o seu café; o seu achocolatado
Morno e disposto ao lado da torrada.
E olha que hoje nem é sábado!

Notou que hoje o despertador
Não gritou feito louco ao seu ouvido
Como se fosse um insano ditador?

Notou que nessa manhã nada foi olvido?
Mas, se nada disso bastar ao seu redor
Para entender que te amo: Troco de cupido.

Élcio