maio 30, 2014

O gato

Numa dessas noites frias e úmidas, dessas que ninguém quer mexer-se muito eis que chega em meu telhado um gato. Um gato malhado que nunca havia pisado em minhas telhas.
Olhei-o em silêncio. O gato malhado aproximou-se e (...) bem, não posso dizer que miou, foi quase, quando muito, algo próximo disso.
- Mi au au! mi au au!
Achei aqui muito estranho e perguntei ao gato malhado:
Tudo bem contigo? fala duas línguas ou é bipolar?
- Não é bem assim!
Respondeu-me o gato malhado, mas eu explico, aliás, como sempre preciso fazer quando mio perto de estranhos:
- Aconteceu quando eu ainda estava em minha primeira vida, recém-nascido e mamava em minha mãe. Na primeira semana a menina que cuidava da nossa ninhada resolveu colocar-me para mamar na cadela prenha da família. Uma, duas, três, vezes seguidas. E foi dali em diante que nunca mais miei como os outros gatos. Até análise já fiz, uma vez que o fonoaudiólogo jogou a toalha.
- Mi au au! mi au au!
E assim como chegou naquela noite fria sobre o meu telhado; foi-se embora aquele gato estranho, aquele gato – já disse que era malhado?


Élcio