junho 26, 2010

Pela rua da minha infância

Pela rua da minha infância,
Tinha leiteiro de carroça,
Tinha quitanda, frutas na bacia.
Tinha o pianista que mostrava à moça

O caminho em preto e branco
Por onde seus dedos passeariam;
Tinha a vizinha solteirona Lalá Blanco
E sua solidão que todos percebiam;

Estampava sua janela fechada. Mouca.
Tinha na esquina o barbeiro magricela
Chegado à cachaça e em boa fofoca;

Ali se sabia da vida de toda clientela.
Tinha missa e eu coroinha a essa época.
A bênção padre José (que hoje é estrela).

Élcio

junho 18, 2010

Ponto e Vírgula

Sob a janela começo a declamar um poema
Quando súbito, engulo um ponto e vírgula.
Eu que não tenho garganta de Ema
Engasguei, tossi, tossi: ENGULA!

Ordeno afônico ao cérebro que se fez
De desentendido. Assim, lá se foi a introdução
Daquela serenada que ali mesmo se desfez,
Ou melhor, fora natimorto na intenção,

Afinal, esquartejei o poema. Ficou sem pé nem
Cabeça. Recomeço, mas, não sem o temor
Do ponto e vírgula... E nele gaguejo; pasmem!

Todos riram de mim. Do irmão (dela) escondido
À vizinha que no escuro espiava meu tremor.
Tenho comigo que foi praga de ex: ou de cunhado!

Élcio

junho 14, 2010

A Cantina

Nesses tempos de mercados globais
Onde balançam bolsas (de valores)
Ou de tolas madames (temporais);
O gelo é (de-gelo) e entre horrores

Tantos eu que nunca tive eira,
Fito a manequim no traje de organdi
Imóvel e silente com um sorriso de caveira
Na cara. Serei eu um projeto de dândi?

Penso eu: ao ponto de meter-me a cacique
Aristocrata ou qualquer tolo que imagina
Ser o mundo de diversões, um parque

Onde todos falam como numa cantina?
Que o diga o Protocolo de Kyoto e explique
Porque o mundo está na mira de uma carabina.

Élcio

junho 08, 2010

Assim

Deixa eu te querer assim
Feito bicho do mato, lascivo,
Em lençol amarrotado...carmesim,
Ora felino, ora apenas inofensivo.

Quiçá perca de vez o tino
Isso pouco me importa.
Contudo, ferve o sangue latino,
Sempre que irrompes por essa porta.

Dá-me teu corpo e não te arrependas.
Antes, contudo, dispa-se de todo pudor
E traze-me esse olhar puro e sem dor.

Por esse seu mundo, pago prendas,
Suicido "n" vezes com bala de festim.
Mas, suplico, venha exatamente assim.

Élcio