agosto 03, 2020

Evanescente

E eles foram assim:

Tornando-se ausente

A cada passo,

A cada dia,

Rumo a um adeus

Cada vez mais previsível

Quanto inexorável.

 

E então o fim apresentou-se

Com toda pompa e circunstância

E à sua volta instaurou a tristeza

E tudo foi tão triste

Que o todo fez-se errante

A dor clamou por seu lugar

E com a aquiescência do fim

Ergueram-se suas bandeiras

Com todas as suas cores,

Formas; facetas mil.

 

E dançou dias seguidos

Que arrastaram-se por semanas

E de semanas a meses...

E dançou, dançou, dançou;

Por longos meses dançou

No palco dos dois corações,

(Outrora tão amantes)

E no último ato sapateou, como se

Envolto fosse pelo som de castanholas.

Ali foi tão vermelha, sedutora e contagiante

Que faria inveja a Carmen.

 

Por fim o frio vácuo.

A respiração é suspensa e

O tempo até parou.

Parou para ver a dor desfilar.

 

Dor que deambulou

Suas derradeiras alegorias – uma a uma-

Em uma atemporidade evanescente.

E foi quando tudo, tudo cessou!

Não houve mais cor,

Forma nem movimento.

 

E do silêncio que seguiu-se

Nasceu a lágrima

(Silente e inequívoca)

Que sacramentou

O adeus...e dos lábios

Um sussurro:

- See you later!

 

Jaraguá do Sul – 17-19/06/14


março 15, 2016

Flores natimortas

Na noite passada, sonhei, sonhei.
Sonhos bizarros, ou eram reais?
Ainda não sei precisar!
Sei apenas que vi muitos poetas caídos,
esparramados ao chão pelos caminhos.
Caminhos sombrios, por vezes com raríssima luz,
Ocaso.
Tinham no olhar, uma melancolia quase tangente e,
Paradoxalmente, de suas bocas brotavam flores.
Flores exuberantes que tão logo deixavam de ser botão,
Tão logo secavam!
Algumas, nem a botão chegavam para desfalecer e secar.
Sequer eram aquareladas pelas cores e sem olor tombavam.
Flores natimortas, poemas vazios!
Pobres flores, débeis poemas.
O cantor sobre a pedra dedilhava sua lira. Lira mouca.
Enquanto seu olhar vagava na imensidão à busca de uma réstia
De inspiração.
Poetas abandonados de sí mesmos: sem norte, sem poesia, sem glamour.
Onde as amantes, as luzes dos cabarés, os cafés: recantos dos artistas
Da Cidade luz?
As ruas, outrora habitat desses poetas tem agora apenas o ladrar de cães
Preguiçosos e nos telhados, os olhares furtivos dos gatos. A coruja piou, bateu asas e voou.
Sonhos que pertencem ao passado, paixões que se foram...o ópio...Cronos a tudo consumiu!
De que adiantaram as poesias inebriantes...para tudo acabar em flores...

Flores natimortas!

dezembro 06, 2015

Incauto Coração

O amor, dizem, não tem idade,
Mas metamorfoseia-se em adolescente.
Àqueles que o acolhem uma vez mais, a idade
É o de menos, pois ele chega e num crescente

Invade e instala-se, subjuga as emoções
Apossa-se do corpo como um tirano
Habituado a conquistar nações.
É forte é belo como o poderio romano!

A ele a alma rende-se silente!
Terá esse tirano nascido
Nas entranhas da mente?

Ou nos olhares libidinosos se oferecido,
Ao incauto coração, como o céu de Dante?

O corpo arde; da razão desguarnecido.

Elcio

dezembro 01, 2015

Ser ou estar campeão?

Ser ou estar campeão? De todo modo é fugaz.
Acabou o jogo, título garantido. A festa!
Nos próximos jogos ninguém mais dará o gaz
Para o gol feio, bonito, de barriga, de testa.

A emoção que antecede e gira na mente,
A emoção da partida, do lance capital
É irmã da frustração, inversamente
Proporcional à expectativa ... se ao final

O resultado for adverso. A tristeza!
Porém, se campeão então valeu a pena
Tanto sofrer. Valeu a mandinga, a reza

Aos orixás, amuletos, galinha de pena
Preta, o sincretismo religioso não causa estranheza

Fugaz, talvez, mas com direito festa na arena. 

Élcio A. Rodrigues

janeiro 23, 2015

Instantes

Neste instante:

Nasce uma rosa,
Nasce uma criança,
Nasce uma esperança.


Neste instante:

Cai o orvalho,
Cai um anjo,
Cai a ilusão.


Neste instante:

A gota fresca  d´orvalho
Escorre pela pétala,
O anjo agora é homem feito,
A ilusão virou frustração.


Em breve:

Criança, rosa e paixão terão vivido
Já passaram por seu instante...
Logo serão passado.


Em breve:

A rosa plantada pela criança
Ornamentará seu túmulo
No qual homem feito
Sepultará consigo aquela paixão.


Para sempre:

Haverá de ficar a esperança...
Do homem de ser o mais inteligente;
Da rosa de ser a mais bela;
Da paixão poder transformar-se em amor.

setembro 07, 2014

Saudades de Montmartre

Joseph d'Egoût caminhava solitário e cabisbaixo tinha entre os lábios um bom charuto; um Cohiba. As mãos enfiadas nos bolsos da calça de linho e sobre a cabeça um Fedora levemente inclinado. Ao longe latidos esporádicos rasgavam o silêncio daquela noite; fria noite de agosto.

Os paralelepípedos ladeados por sobrados coloridos e apertados entre si, atados por varais vazios iam deslizando por sobre seus ombros para trás ficando, lenta e melancolicamente a cada passo. O último ônibus há muito passou. Tudo ou quase tudo é silêncio: as pessoas dormem e os cães ladram.

A noite que agora apresenta-se pertence aos excêntricos, aos artistas às prostitutas amadas e amantes de homens e de mulheres; amantes das madrugadas.

Em seu caminhar Joseph d'Egoût recorda-se de madrugadas idas, memoráveis por ele vividas em Monmartre antro boêmio que alimentava-se de poesias e de seus poetas, de aristocratas e desempregados de artistas, intelectuais, viciados, mas, fundamentalmente, alimentavam-se de homens e de almas.

Os musicais cheios de luzes, paralelos à luxúria e à prostituição foi nesse ambiente que viveu o nascimento de novos movimentos artísticos, de artistas como Toulouse-Lautrec que um dia mapeou e expos a alma dessas noites. As saudades de Monmartre corroíam-no, especificamente o número 82 da Boulevard de Clichy, endereço do Moulin Rouge que abraçava a tudo e a todos, fossem ou não ébrios, viciados ou artistas. Ah! o Moulin Rouge!!! Suspira Joseph d'Egoût. Bons tempos. Tempos idos, jamais olvidos.

Uma vez em terras americanas Joseph d'Egoût desfrutava as noites, mas essas noites eram de uma calmaria tamanha que quase sufocavam-no. O início da década de 40 mostrava-se por demais turbulenta, principalmente do outro lado do Atlântico onde a vida em sua Cidade Luz fora usurpada e no dia 14 de julho de 1940 quando a Wehrmacht entra com seus arianos jactantes a marchar sob o Arco do Triunfo, desvirginando o moral parisiense deixava claro: A Champs-Élysées nunca mais será a mesma. Não haveria mais poesia no ar e, sim bombardeios – o armistício fora instaurado -. Sua Paris exporia nos anos seguintes os esqueletos de suas edificações; cadáveres da alegria. Joseph d'Egoût no entanto estava entre os mais de dois milhões de parisienses que rapidamente deixaram a cidade.

A noite é fria e a paz é relativa para Joseph d'Egoût. Ele carrega um coração puído apequenado pelas saudades de sua maltratada e vilipendiada Paris. Num suspiro seus lábios sussurram apenas para seus ouvidos:


- Um dia eu volto pátria amada. Quiçá apenas minha alma, já que essa carcaça ... dificilmente!

Elcio

agosto 04, 2014

A dama da noite e o colibri

Deixei nas Minas Gerais os meus rastros
Pelas montanhas verdejantes,
Entremeio as trilhas dos carros-de-boi.
Os pés nus a pisar o orvalho, a
Terra vermelha, terra de massapé.
Fogão na janela, de lenha.
O cheiro do café no bule a fumegar.
Colibri esnobe bailou
Pela moldura da minha janela.
Deu ré, serpenteou e como um raio
Desapareceu, escafedeu-se
Em meio a tantas cores.
Colibri de vôo rasante!
A dama da noite ficou à tua espera;
(Como alguém por mim).
Algo ficou perdido entre o vir e o não ir.

O bolo é de fubá, cravo e canela,
A touceira de capim cidreira
No pé da porta é contra o mau agouro.
Vida danada! Cria raízes
Na gente prá mode de nunca mais tirá.
E já não há mais como deixar de sentir
Essa dor a futicar nas entranhas.
Dor malvada que tantos chamam saudade.
- Esconjuro.

Novembro vem com céu de brigadeiro e
Traz as jabuticabas, xô passarim!
Antes, porém, as suas flores explodem.
Colibri incestuoso! Quem te ensinou
A todas beijar, a todas cortejar,
Mas sem a nenhuma pertencer?
Uberaba (das sete colinas)
   Um dia eu ainda volto!